A música colonial brasileira possui um material riquíssimo que ainda vem sendo descoberto na atualidade por meio do trabalho de musicólogos(as) e pesquisadores(as). Se até meados do século XX se acreditava não ter havido produção musical relevante no Brasil anterior ao século XIX, hoje sabemos que essa produção aconteceu — porém sua documentação foi sendo perdida ao longo dos séculos em arquivos mal condicionados, reformas e toda sorte de mudanças tão comuns ao passar do tempo.
Se lembramos que a imprensa era proibida no Brasil desde 1647 até 1808, com a chegada da família real ao Brasil, entendemos uma das grandes razões da dificuldade de se documentar — e conservar — o que era produzido no país no período colonial. Dependendo apenas das cópias manuscritas, boa parte das composições se perdeu, restando apenas documentos com relatos de contratos e execuções musicais em eventos e festejos oficiais, religiosos ou não.
Dentre os exemplos de compositores cuja obra foi parcialmente conservada, um dos mais importantes é o de Damião Barbosa de Araújo (Itaparica, 1778 – Salvador, 1856), que foi um compositor, violinista e regente baiano. Estudou e atuou inicialmente em Salvador como violinista e compositor e, em 1808, quando a família real portuguesa chegava pela primeira vez ao Brasil — fugindo de Napoleão —, foi convidado pelo príncipe Dom João (que se tornou rei Dom João VI sete anos depois, após a morte de sua mãe, a rainha Maria I) a pegar carona no comboio e ir ao Rio de Janeiro servir na sua Real Capela, na nova capital do país.
Salvador havia deixado de ser a capital do Brasil 45 anos antes, em 1763, por conta do declínio do ciclo da cana de açúcar e da descoberta de ouro em Minas Gerais. Como a melhor rota de escoamento do garimpo mineiro para a exportação, a cidade do Rio de Janeiro cresceu em importância econômica para a coroa e foi nomeada capital do Brasil.
Antes de chegar ao destino final, porém, o comboio que veio fugido de Portugal parou em Salvador para reabastecer e descansar da dura viagem — além de garantir alianças para a coroa portuguesa na Bahia em meio a tantas revoltas que haviam acontecido no século XVIII. Neste momento, Damião Barbosa, já reconhecido como hábil músico e compositor, é convidado pelo príncipe a se mudar para o Rio de Janeiro.
Chegando lá, trabalhou durante vários anos como músico e compositor na Brigada do Príncipe e na Irmandade Santa Cecília e, após a Independência do Brasil em 1822, ingressa como violinista na Capela Imperial.
Retorna à Bahia em 1828 e entra na Academia de Música, além de atuar como professor particular de piano. Em 1854 é nomeado chefe de capela da Catedral da Sé de Salvador — aquela que fica ali no Terreiro de Jesus, no Pelourinho.
A música a seguir é sua obra mais conhecida e se chama Memento Baiano. Composta para coro e orquestra, essa é uma grande joia da música colonial brasileira.
Fontes:
- DAMIÃO Barbosa de Araújo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa541285/damiao-barbosa-de-araujo. Acesso em: 23 de fevereiro de 2022. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7 - Biblioteca Nacional de Portugal — http://www.bnportugal.gov.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=589%3Aconferencia-praticas-e-estilos-musicais-na-obra-de-damiao-barbosa-de-araujo&catid=157%3A2011&Itemid=631&lang=en
2 respostas em “Damião Barbosa de Araújo”
Concordo com Lena, é uma belíssima produção. Fico pensando no tanto que pode ter sido perdido em termos de cultura por falta de documentação!
Que bela produção baiana. Fico cada vez mais orgulhosa das nossas origens!